As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

HISTÓRIAS DA VÓ NIKITA - O Encantado

Se você vivesse ao “Deus dará”, numa região desconhecida, cercando-se de muita coisa estranha e sem que soubesse as causas, em que acreditaria para agir sempre com o mínimo de bom senso? Às experiências vividas e dividas por outros? .... O caminho natural e fácil.
Nos tempos de menina, minha avó Ana presenciou  e viveu algumas dessas. Uma criança tentando entender o mundo em que vivia e, em posse disso, como muitos outros, propagadora de um saber local e único.
Histórias e crendices presentes e marcantes na cultura ribeirinha... Fundamentos a reger a vida de comunidades inteiras, durante gerações seguidas.  
Histórias do interior.... Histórias da Amazônia.
Na grande baía do Jacaré Grande, subindo um pouco um pequeno igarapé, ficava o barracão dos Nunes. Era uma família numerosa, algo comum nesses interiores, onde as caboclas tinham de dez filhos para cima.
Minha avó Ana, matriarca de dez filhos, foi testemunha desta história, na adolescência de seus catorze anos. Hoje, com seus oitenta e três, ainda têm em suas lembranças esses fatos muito nítidos, conforme passo a vos narrar a seguir.
Naquele tempo as famílias viviam da caça e, principalmente, da pesca. Havia uma fartura dessas coisas. Os ribeirinhos distribuíam-se por ali, ocultos nessa exuberância natural, todo dia lutando e buscando novas coisas por sua sobrevivência. Verdadeiros desbravadores, ocupando lugares tão longínquos e desfavorecidos de nossos confortos atuais, que o contentamento geral era ter com que prover sempre suas famílias no dia-a-dia e - abençoe Deus para isso - gozar sempre de boa saúde. Assim era na Amazônia, assim era naquelas matas... Selvagens, virgens e misteriosas.
Outras culturas que ajudavam na obtenção de um pouco de renda eram: a coleta das castanhas da andiroba e muru-muru, para o azeite a ser vendido na cidade, e a borracha extraída das seringueiras. Cedo o caboclo ia para a mata riscar as árvores marcadas para isso.
Uma novidade naquelas bandas era a extração de madeira para fazer dormente. Dava algum lucro, mas sempre era muito trabalhoso. Tinham que arrastar a madeira para a beira do rio e, desprovidos de embarcações, faziam uma jangada e nelas se arriscavam pelas águas sempre perigosas do Jacarezinho. Levando o “progresso” para a cidade... Levando os dormentes para as linhas ferroviárias da época.
O Alípio acordou bem cedo para tirar madeira naquele dia, era um dos varões da família Nunes. Rapaz impetuoso, menos de vinte anos, embrenhava-se sempre nas trilhas da mata sem conhecer o que era perigo.
Pegou o seu machado, facão, lanterna e tomou um rumo tantas vezes percorrido. Primeiro tinha que encontrar bons troncos, talhar o dormente e depois avaliar a situação para melhor transportá-los dali. Isso consumia sempre umas boas horas do dia.
Os Nunes reuniram-se para a caldeirada de peixe no jantar e constataram então a demora do rapaz, imaginavam sempre que estava com um ou outro. Mas, todos ali, nada do Alípio. Já era fim de tarde e o sujeito não retornara desde cedo. Numa mata fechada, com onças, cobras, escorpiões e “visagens”, perder-se é sempre algo perigoso e preocupante. Os caboclos deram uma batida nas proximidades e nada encontraram, para tristeza e desespero de Dona Cordeira, que imaginava seu filho envolto em muitos perigos.
Anoiteceu e deixaram as buscas para o dia seguinte. O Alípio devia ter se metido em mata muito distante. Era um rapaz destemido, mas também convicto até demais disso!
Procuraram no dia seguinte, avançaram na mata, gritavam até se esgoelar, batiam nas sumaúmas com os facões (se você não sabe, esse é um “telefone” da selva), entraram por todas as trilhas conhecidas e nada. A essa altura Dona Cordeira era só prantos. 
Alguns rapazes, avançando um pouco mais na mata, relataram aos outros que acharam o machado e facão do Alípio por cima de uma tora, mas ele não estava ali. Só o que viram foram umas pegadas que seguiram e estranhamente viram terminar às margens de um igarapé distante. Deixaram lá os pertences do mesmo, pois se aparecesse podia precisar. 
Mais uma noite e o Alípio sumido.... Onde estaria e o que teria lhe acontecido? Era o que todos se indagavam.
Três noites e a mesma aflição. Numa ânsia danada, já tinha até quem o dava por morto naquelas paragens. Na casa de minha avó ajudaram também nas buscas.
No quarto dia, quando se encontrava apenas uma de suas irmãs no barracão, preparando o almoço no jirau, qual não foi sua surpresa quando deparou com um assustado e desfigurado Alípio espiando e dizendo:
- Não fala nada prá ninguém que tô aqui! Onde tô é muito bonito! É uma cidade muito bonita onde eles me levaram no fundo do rio! Não queriam me deixar vir, mas eu pedi muito, só prá buscar minhas roupas e voltar. Lá é muito bonito, muito bonito! Não fala nada prá ninguém...
E foi com esse louco palavreado que o Alípio apareceu a sua irmã. Referia-se sempre a “eles” sem citar nomes e a falar de uma cidade nunca vista. Quando viu em sua irmã a intenção de chamar alguém correu e desapareceu na mata.
Os Nunes quando se reuniram e souberam da história, ficaram com uma mistura de alívio e preocupação, o que se passava com seu irmão? Chegaram até a brigar com a moça acreditando que a mesma não tinha nada feito para que ele ficasse.
Continuaram as buscas nos dias seguintes e o rapaz desaparecido naquela mata fechada, onde a noite não se enxergava nem a própria mão.
Acreditando se tratar de algo sobrenatural, chamaram o Manoel Dias, um curandeiro e benzedor muito conhecido naquela localidade. Mistura de médico, psicólogo, padre e "espantador de visagem". Com suas mandingas ele disse que o Alípio estava encantado por Uiara e que deveriam abandonar as buscas que não encontrariam o rapaz. Estava encantado, escondido e possesso do espírito do rio. O que deveriam fazer era aguardá-lo escondidos na casa. Ele ia aparecer. Também deveriam deixar atada a rede mais forte que tivessem e uma cordas bem resistentes.
Dona Cordeira fez segundo as recomendações e, no dia seguinte, deixaram suas ocupações e ficaram no barracão escondidos, à espera do Alípio.
No fim da tarde, finalmente apareceu “o encantado”. Estava desconfiado, com um agir diferente. Pelas frestas das casas viram o estranho Alípio ficar à espreita para ver se tinha alguém. Constatando que não, sorrateiramente saiu da mata e entrou no barracão. Seus irmãos então, assim que o rapaz entrou, fecharam as portas e janelas impedindo a fuga.
O encantado tentou de todas as formas se desvencilhar do braço de seus irmãos. Eram caboclos criados no açaí de maior sustância, mas fizeram muita força para conter o encantado, principalmente porque diziam que ele estava com a pele muito lisa, escapando várias vezes e quase fugindo. Se fossem só três ou quatro, ele teria conseguido.
Todos seguraram o Alípio e o colocaram na rede atada, amarrando-a com muitas voltas da corda. Seguraram também os punhos, pois balançava tanto a ponto de quase rasgar a rede. Falava sempre para deixar-lhe voltar para a cidade.
O Manoel Dias foi chamado às pressas e começou a fazer suas benzeduras até o Alípio se acalmar. Seja de que loucura o rapaz estivesse, foi se acalmando até não manifestar mais o desejo de correr para a mata. Os Nunes mantiveram a guarda nos dias seguintes e o Manoel Dias continuou com suas benzeduras.
Após uma semana foi declarado a quebra do encanto, o Alípio estava livre do espírito do Uiara.

Ana Castelo
Bem, amigos...

Inúmeros casos como esse ocorreram na Amazônia e, por acreditarem em benzedores como o Manoel Dias, outros muitos jovens foram libertos de ter uma vida, sabe-se lá como, de perambular como loucos pela floresta, transformados em almas errantes num breu mortal. Tal Victor (de Aveyron), mas na floresta amazônica, homens perdidos vivendo um encantamento em suas cabeças.  

Morte certa e em poucos dias.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quero ver Macapá (Banda Placa)

Música composta por Álvaro Gomes para o primeiro CD da Banda Placa, "Placlarear", em 1994.
 
 Quero ver Macapá!  
Domingo, praia, verde mar, 
Um jogo lá no Zerão 
A noite a brisa ao quebrar mar, 
Momento de paixão 
Vivendo sob o sol, Macapá! 
Ali no Goiabal, vou te levar! 
E lá vou eu, sentindo essa emoção, 
E lá vou eu, cantando essa canção!  
Quero ver Macapá! 
Quero ver Macapá! 
O Marabaixo, a Fortaleza, 
A nossa tradição... 
O padroeiro São José, 
A nossa proteção 
Vivendo sob o sol, Macapá! 
Na Serra do Navio, vou te buscar! 
Em fazendinha, eu quero....te beijar!  
Quero ver Macapá! 
Quero ver Macapá!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Imagens do Sítio Arqueológico em Calçoene

Imagens do local da descoberta de monumentos monolíticos dispostos em círculo, supostamente com finalidade astronômica e/ou religiosa, do período pré-Colombiano. Considerado uma espécie de "Stonehenge" amazônico, embora de dimensões bem menores.

 
Sítio arqueológico situado no município de Calçoene (Vídeo de Daniel Nec).
Site do autor do vídeo: www.flavors.me/danielnec
 
Cromlech di Calcoene, Stato di Amapà, Brasile (Vídeo de Yuri Leveratto)

MUNICÍPIOS - Calçoene (Parte 2 - O lugar mais chuvoso do Brasil)

Enchentes em Calçoene  (2011)
O Município de Calçoene, no Amapá, com uma precipitação média anual de 4.165 mm, foi identificado, por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), como o local mais chuvoso do Brasil.Anteriormente, a literatura citava a região da Serra do Mar, entre Paranapiacaba e Itapanhaú, em São Paulo, com uma precipitação média anual de 3.600 mm, como o local mais chuvoso do país. 


A precipitação em Calçoene é cerca de três vezes maior 
que a registrada na cidade de São Paulo.

A partir da criação da ANA (Agência Nacional das Águas), foram organizados bancos de dados contendo milhares de séries históricas em todos os estados da federação. Era natural de se supor que, na Amazônia, estariam os locais de maior pluviosidade.
No Brasil, as áreas de maiores precipitações ocorrem no litoral do Amapá e na região do estado do Amazonas conhecida como “Cabeça de Cachorro”. Em ambas, existem zonas onde as precipitações médias superam os 4.000 milímetros mensais.
No mundo, os registros de maior pluviosidade são em Lloró, cidade do estado de Chocó, na Colômbia. Ela detém o recorde mundial de maior precipitação média anual registrada em 13.300 mm.  Chove tanto que inundações e enchentes são tão comuns que os habitantes locais ensinam suas crianças técnicas para lidarem com essa situação, além de preparar suas residências para esses eventos quase certos. A população até brinca com o fato, relatando que o número de barcos é maior que o de carros. 

Enchentes em Calçoene (2009)
Este ano as chuvas foram intensas em Calçoene, provocando enchentes na zona urbana devido a elevação do nível do rio Calçoene. Não há dados atuais sobre o número de desabrigados, desalojados e nem de afetados. A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros estiveram no município e prestaram ajuda na distribuição de 75 cestas básicas às famílias desalojadas e apoio logístico.


 
Nenhuma novidade para os moradores daquela região, acostumados a chuva, mas as desse ano, certamente superaram as temporadas chuvosas dos últimos 20 anos.

O Sítio Arqueológico de Calçoene (O Stonehenge Brasileiro)

O sítio arqueológico de Calçoene é conhecido como o Stonehenge Brasileiro, pois possui um círculo de pedras similar ao famoso existente na Inglaterra, permitia a uma antiga civilização conhecer com precisão a chegada do equinócio. 

Stonehenge na planície de Salisbury na Inglaterra
O círculo de Calçoene foi apelidado de "Stonehenge do Amapá"
                                        
O equinócio era uma data importante para os povos antigos, pois eles podiam com base nisso programar o plantio e a colheita e até períodos de chuva e seca. 

 Pouco se sabe sobre a população que ali viveu, 
mas um monumento deste porte  não pode ter sido feito em pouco tempo.
O local, que data de aproximadamente 2000 anos, pertencia a uma civilização desconhecida e já foi declarado Patrimônio Megalítico do Brasil, foi descoberto em 1905 pelo pesquisador Emilio Goeldi.
 

A relação entre o equinócio e a distribuição dos monumentos megalíticos de Calçoene no estado do Amapá, foi descoberta por Marcomede Rangel do Observatório Nacional,  com a ajuda de GPS, bússolas de precisão e cálculos de correção da declinação magnética.
Mapa de Localização (Fonte: Nimuendajú Revisitado)

Fonte: wikimapia.org 
O conjunto de rochas disposto de forma circular permitia estabelecer tanto a chegada do solstício de inverno no hemisfério norte como o equinócio. O sítio arqueológico brasileiro está localizado a 384 km ao norte de Macapá, a capital do estado do Amapá, em latitudes do hemisfério norte e a uns 14 km da cidade de Calçoene.
Vista Panorâmica do Sítio (Fonte: Nimuendajú Revisitado)

Assim como em Stonehenge, o sítio arqueológico brasileiro conta com várias pedras de tamanho grande, algumas com até 4 metros de altura enterrados no solo formando um círculo com 30 metros de diâmetro. O local está em cima de uma colina e as pedras, segundo Rangel, possuem uma pequena inclinação relacionada com o movimento do Sol no céu. 


segunda-feira, 16 de maio de 2011

MUNICÍPIOS - Calçoene (Parte 1 - Informações Gerais)

Mapa de localização (Wikipédia)
 O Município de Calçoene foi fundado oficialmente em 1956 e seu nome significa "Cunha Norte" (pela posição geográfica e circunstâncias em que fora criado, alvo de invasores em busca de ouro).
Este município tem ao longo de sua história uma importância significativa para a história do Amapá e  Amazônia, sua posição geo-estratégica, fora alvo de conquistadores e desbravadores , que sempre sonhavam em conquistar suas belezas naturais e suas riquezas minerais. 
Hoje o município empenha-se em buscar um desenvolvimento, aliando a vontade política de sua sociedade a conservação equilibrada de suas riquezas naturais , fazendo com que as próximas gerações possam usar de forma sustentável de seus recursos naturais. 
Mapa SEMA-AP (2004)
 Suas potencialidades na área do setor primário foram preponderante na escolha de  sua vocação de desenvolvimento, seu potencial agrícola e extrativista representam uma alternativa de crescimento econômico para a população, sua costa marinha está entre as mais produtivas de pescados e marisco do Brasil, destacando-se entre outras espécies a pescada amarela e a gurijuba (bastante apreciada na culinária regional e nacional).

Porém, o uso irracional de técnicas inadequadas para a pesca e a exploração excessiva, poderá comprometer sua viabilidade econômica por conta de sua escassez ou mesmo sua extinção, como o caso dos mariscos , especialmente o caranguejo e o camarão rosa. 
Praia do Goiabal (Foto de Aline Gomes)
Outro fator a ser levado em consideração , é o setor ligado ao turismo, uma vez que o município é dotado de inúmeras belezas naturais, cachoeiras e corredeiras, que  fazem desse município expoente na prática de esportes radicais e visitas ecológicas. A única praia aberta da costa amapaense (Goiabal), também pode ser encontrada em Calçoene, além do fato de ser praticamente cortada pela BR-156.
Cachoeira Grande (Calçoene) / Fotos: Rogério Castelo
Portanto, Calçoene tem em seu futuro próximo, o destino do desenvolvimento e do crescimento econômico, aliado ao espírito desbravador e empreendedor de sua população, já registrado na própria essência de sua história.  
Histórico 
Foto: Rogério Castelo
A origem do atual Município remonta ao século XVII, quando as incursões de navegadores europeus incentivaram a coroa portuguesa, então unida à espanhola, a tomar providências no sentido de garantir o domínio da região. Assim, em 1634, pela Carta Régia de 14 de junho, Felipe IV criou a Capitania do Cabo Norte, também chamada Costa do Cabo Norte e doou-a a Bento Maciel Parente. As terras estendiam-se do rio Oiapoque até o rio Amazonas e, por este, até o rio Paru, onde se situava o território de Calçoene, antigo Distrito do Município de Amapá, desde a incorporação do Contestado ao território brasileiro, em 1901. 
Biblioteca Pública e Ambiental de Calçoene
(Fotos: Rogério Castelo/2009)
A descoberta das minas auríferas do rio Calçoene despertou a febre do ouro nos habitantes da Guiana Francesa, reavivando os problemas políticos da fronteira, acumulados desde a era colonial. A luta pela região foi encerrada com a vitória dos brasileiros, comandados por Francisco Xavier da Veiga Cabral, o Cabralzinho. A Cidade de Calçoene teve origem com o movimento de garimpeiros e faiscadores de ouro e o trânsito de abastecimento das minas. Situada na margem esquerda do rio Calçoene, ao pé da primeira cachoeira, ponto importante para o transporte de mercadorias destinadas às minas de Lourenço, a localidade se desenvolveu rapidamente. Antes da incorporação da região ao território brasileiro, exploradores construíram, no último quartel do século passado, um "monorailway", estrada de ferro, ligando a localidade de Calçoene a Lourenço. 

  Mapa SEMA-AP (2006)


INFORMAÇÕES GERAIS
Nome oficial: Município de Calçoene

Lei de Criação: Lei Federal Nº 3.056, de 22/12/1956

Limites:
Norte: Oiapoque
Sul: Amapá e Pracuúba
Leste: Oceano Atlântico
Oeste: Serra do Navio

Área: 14.269 km²

População: 9.000 habitantes (IBGE 2010)

Comunidades Principais:
Calafate, Carnot, Cunani, Goiabal e Lourenço

Gentílico: Calçoenense

Produção: Mineração, pecuária, lavoura de subsistência e a pesca

Distância da Capital: 384 km

Transporte: Rodoviário, fluvial e aéreo (possui um aeroporto e pistas de pouso em garimpos)

Atração Turística: Lagos, igarapés e pesca esportiva

Vegetação: Cerrado e Floresta Tropical Densa
Vários ecossistemas são encontrados ao longo da extensão territorial de Calçoene, a vegetação é variada com Mata de terra Firme (Floresta),campos inundáveis, Floresta de transição (mata Siliar),Várzea e Manguezais.prensença em abundância de madeira nobres como: macacaúba, angelim, massaranduba, quaricara, andiroba e outros.

Hidrografia: Rio Amapá Grande, Rio Calçoene, Rio Caciporé e Rio Cunani
O município possui uma bacia hidrográfica composta por vários rios , sendo que o mais importante é o Rio Calçoene , que faz ligação com o Oceano Atlântico, fazendo com que o porto de Calçoene seja o mais próximo porto Urbano da região costeira , sendo ponto de abastecimento para barcos vindo das regiões vizinhas e de outros estado, que utilizan-se do porto para  aquisição de gênero alimentícios, equipamentos de pesca e manutenção de embarcação e gelo para a conservação do Pescado.

Temperatura:
Média: 30º C
Máxima: 34º C
Mínima: 21º C
Calçoene é o lugar mais chuvoso do Brasil.
No município, predomina o clima equatorial, com temperatura máxima de 32,6° e mínima de 20° centígrados. As chuvas ocorrem nos meses de Dezembro à Agosto, atingindo em média de 2.500mm. A estação das secas inicia no mês de Setembro estendendo-se até meados de Dezembro, quando ocorre registro de temperaturas mais altas

Altitude: 12 m

Grupos Indígenas: Nenhum

Fonte: IBGE Cidades
 
Entrada da cidade (Foto de Ney Santos)    
Cachoeira do Firmino (Foto de Alan Kardec)
Ruínas do solstício encontrado em Calçoene
 (herança de povos antigos)

Fonte:
DLIS Calçoene (2002)
-Biblioteca Ambiental da SEMA-AP

NOTAS DO AMAPÁ - Hoje é o dia do Gari

Hoje é o dia do gari. Sem a ação, importante e contínua, desses profissionais em nossas cidades, muito mais caos existiria. Vejo-os nas ruas, debaixo de sol escaldante ou chuva, a trabalhar, se metendo nas coisas mais difíceis, entre carros e cachorros, limpando a sujeira por todos nós deixada. É impressionante ver também o descaso da população, em geral, quando se trata de educação ambiental e urbana. Quase todos jogam lixo em qualquer lugar e para onde a cara estiver virada....muitas vezes as lixeiras servem apenas de enfeite.
Esses profissionais que tantas vezes passam como invisíveis ao nosso lado, ignorados e até desprezados, merecem o respeito e reconhecimento pelo empenho, da população - tendo atitudes mais conscientes na destinação dos resíduos, pois afeta a todos nós - e dos governantes, que deveriam, numa ação tão exposta a risco como a deles, proporcionar-lhes condições favoráveis de trabalhar com segurança e principalmente dignidade. 
Um reconhecimento a quem se empenha todos os dias em nossa sociedade...assumindo um compromisso com o descompromisso de muitos, para tornar nossas cidades mais limpas!  
 Um folder da SEMA sobre coleta de lixo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

HISTÓRIAS DA VÓ NIKITA - A História do Gonçalo

  "Barracão" - Fiz esse desenho com 15 anos (1988)

Mistérios e mistérios... pode-se dizer assim, quando se vive em uma região tão grande em encantos naturais, quanto em desconhecimento dos fatos presentes nas coisas  cotidianas que nos cercam. Assim é a Amazônia. 
Quando observo hoje todas as mídias disponíveis... cheia de bites, banda larga, High definition e o que mais for... num mundo de informações rápidas e à disposição fácil...vejo esse desconhecimento muito presente em grande parte da população sobre essas bandas de cá.
Há quem pense que aqui só tem índio, onça na rua, ou nem tenha civilização. Parece ridículo, mas é no que muitos acreditam, nesse mundo globalizado e evoluído.
Oras! Se hoje há tanta suposição, que dizer de uma Amazônia de trinta, setenta... cem ou mais anos atrás! Povoada de cidadãos sem a metade das condições e oportunidades hoje a nós oferecida.
Um lugar triplicado em mistérios, onde as histórias eram contadas e passadas, não como simples engodo, mas...de certa forma....como orientação e aprendizagem nas famílias.
Meus avós me contavam essas histórias... por serem as personagens ou por terem ouvido de seus pais. Sempre gostei de ouvi-las e deixo nestas linhas um pouco desse passado a se extinguir em todas as mentes... mas que formaram a nossa identidade cultural.
Ana, minha tataraseiláoquevó, contou a sua filha Tereza, que contou a sua filha Marieta, que contou a minha avó Ana – Nikita para os íntimos - que foi quem me contou. Será mais um dos muitos delírios daqueles tempos... sei lá? Mas coisas sempre ocorriam e a informação, em todas as épocas, é sempre fundamento vital para nossa existência.  

Aconteceu há mais de cem anos lá no rio Jacaré Grande. O Gonçalo tinha um barracão onde morava com sua família (de nomes, só sobrou a lembrança de sua filha Raimunda). Era um sujeito pacato e trabalhador em um comércio próximo, caracterizado por apresentar um trapiche muito grande na frente. Local para atracação e descarga de mercadorias.
Num lugar em que os lampiões e lamparinas reinavam todas as noites, era costume dormir cedo, de manhã todos tinham muito o que fazer. Cedinho ir pescar, lavar roupa no igarapé, tirar açaí...tanta coisa, tanta coisa.  
Foi por volta das 18 h que se iniciou essa história. Raimunda estava um dia sozinha lá na ponta do trapichão... espairecia um pouco da lida para tratar de se recolher ao seu barracão. Televisão, novelas? Ah! Isso era uma uma regalia para gerações futuras. O lugar era ermo e sossegado. Na boca da noite poucos vinham em busca de mantimentos no comércio pertinho.
Até que um dia... Murmúrios, movimentos próximos, Raimunda voltou sua atenção para as bandas de um aningal. Não era comum agito por ali, cheio de poraquês e carapanãs a esta hora, quem poderia se meter ali? Só podia ser ladrão, querendo roubar o comércio... Foi o que pensou.
Quase em seguida, eis que surge uma "montaria", mas não uma qualquer, era dessas de dar gosto de ver e passear. Bem feita e pintada, mas também diferente por apresentar três homens muito bem alinhados, com terno branco e chapéu de couro com uma fita preta. Sujeitos nunca vistos antes. Remaram até sumir na primeira curva do rio.
Vô Apolinário e Vó Ana (1998)
Raimunda recolheu-se ao barracão e contou os fatos ao Gonçalo, seu pai. Evidentemente o homem ficou cismado, pois conhecia todo mundo naquelas paragens e nada sabia dos sujeitos.
Na hora de maior sono, palmas em frente à casa. Gonçalo pulou da cama e foi verificar, nada de gente! E palmas novamente! O homem começou a ficar bravo e espraguejar, principalmente pelas pedradas seguidas que se iniciaram sobre a casa. Só pode ser moleque, certamente esses rapazes que sua filha viu e que deveriam estar com ela para roubar-lhe e sumir no mundo. A cada pedrada e palmas o homem ficava mais furioso ainda, a ponto de dicutir ferrenhamente com seus parentes. Gritava, espraguejava, e queria agredir sua filha, a quem sempre acusava. Para maior espanto de seus familiares, qual a razão disso? Já que nada viam ou ouviam!
O Gonçalo estava transformado, parecia não ser o mesmo. Só quando suas forças se esgotaram que dormiu profundamente, para alívio de todos, tão assustados e sem o porquê da situação.
Os dias seguintes não foram mais os mesmos..... Gonçalo entrara numa situação de abatimento profundo. Pouco falava, desinteressado de tudo e com longas horas falando baixinho e sozinho. Buscavam e imaginavam causas a essa “panemagem” mas, em terras onde acreditava-se em uiara e matinta-pereira, de benzedeiras e pajelanças (únicos meios de se agarrar a uma “assistência em saúde”) logo se mitificou a situação. Lembraram da história da Raimunda e dos rapazes desconhecidos e concluíram: Só poderiam ser botos “mundiando” mais uma pobre alma para  carregá-la a seu mundo encantado. 
Talvez por quererem ver, acreditarem sinceramente nestas coisas, houve muitos relatos de verem o Gonçalo, que gostava de ficar sozinho na ponta do trapiche, estar sempre acompanhado e conversando com três rapazes. Uns contaram até que avistaram um deles pulando na água e sumindo, aparecendo logo em seguida um boto. Diga-se aqui que era comum botos transitarem por essas paragens, principalmente nos horários de menor movimento, como no entardecer e perto do trapiche...tão avançado no rio.  
Acreditando-se ou não, diante do sentimento de impossibilidade de curar o Gonçalo, deixaram-no com suas “visagens” e sempre um frio percorria o corpo de quem avistava-o no trapiche “conversando com os botos”, de quem já era encantado!

Mistérios na Amazônia... Verdade ou mentira, ficou o fato do Gonçalo morrer pouquíssimo tempo depois e, naquele trapiche, ninguém querer circular sozinho à noite.

Você talvez estranhe essa história, não são os botos vistos sempre como conquistadores? Sim, mas ali, na mente de todos era mais que isso, eram símbolos de morte quando simpatizavam com a alma de alguém. Acreditou-se por muito tempo nisso e, de boato em boato, aí está mais um fato marcante na história e agir de todos daquele lugar e tempo... um pouco acima das três bocas, tantos anos atrás, lá nas margens do Jacaré grande!!

"Barracão" - Desenho de Isabelly (9 anos), miha sobrinha (2011)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Educação Ambiental para a preservação dos Grandes Felinos (Publicações)

Ocorrências de ataques de onças estão presentes anualmente em todo o território nacional. Acontece devido a destruição do meio ambiente e das presas caçadas pelo felino, quando o homem invade seu espaço e provoca a aproximação. 
Atentemos para a importância de se manter o equilíbrio ecológico, onde esses predadores naturais possam ter sempre o direito à vida respeitado.
A publicação é da LAKE, de 1999, tratando da preservação desses felinos (Toinzinho e a Onça).

A RPPN REVECOM desenvolve importante projeto ambiental no Amapá, através da recuperação de áreas degradadas, produção de mudas, reintrodução de fauna e cuidados a animais feridos (apreendidos por órgãos ambientais, provenientes do tráfico silvestre).
Essa HQ é uma de suas ferramentas na educação ambiental, destinada ao público infantojuvenil (mostrando a triste realidade da caça e maus tratos), objetivando a conscientização e adesão à importância da preservação ambiental.
Destaque para as ótimas ilustrações.

Conheça a RPPN REVECOM (revecombr.com.br) e sua importância ambiental no Estado do Amapá.

Presença e abate de grandes felinos na APA do Curiaú

Onça-parda ou Suçuarana
A Área de Preservação Ambiental do rio Curiaú localiza-se na região da foz do rio Curiaú, no estado do Amapá. A cerca de 8 km da cidade de Macapá, a APA tem como objetivo a proteção e conservação dos recursos naturais e ambientais da região. Em paralelo, os moradores lutam para preservar, além da beleza natural da região, a memória dos antigos escravos, trazidos no século XVIII, para a construção da Fortaleza de São José de Macapá. (Fonte: Wikipédia).
O local apresenta criação de gado e foram registrados, nos recentes anos, alguns conflitos entre criadores e onças (Panthera onça e Puma concolor), devido a predação, gerando temor a população residente e perdas econômicas. 

Onça-pintada
O aparecimento das onças está relacionado à devastação de seu habitat, provocando a migração destas para as áreas de várzeas, onde estão presentes os bois, vacas, porcos e cavalos das comunidades.

Esses conflitos acabam, quase sempre, no abate dos animais. Isso é algo difundido e praticado por pecuaristas em todas as partes - independente de fronteiras.

Abaixo, algumas reportagens de jornais amapaenses sobre a presença e abate destes grandes felinos na APA do Curiaú. São textos do ano de 2007.

Diário do Amapá - 31/08/2007"Onças invadem pastos e assustam moradores do Curiaú"
Diário do Amapá - 19/09/2007 - "Moradores do Curiaú matam uma das onças que devorava animais"

Jornal do Dia 19/09/2007 - "Comunidade do Curiaú Abate onça parda"
Em razão dos casos registrados, foi criado o projeto Proposta multidisciplinar para conservação de grandes felinos na APA , que ficou conhecido como "Onça do Curiaú", em junho de 2009, com a coordenação de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA) e SEMA, programando-se exibição de vídeos e palestras junto a comunidade.

A meta do projeto foi ainda saber o que os pecuaristas pensam sobre a presença das onças na Área de Preservação Ambiental do rio Curiaú (APA) e a sua disponibilidade de receber as informações de manejo adequado, visando à prevenção da predação no local. Informações importantes para promover a melhor convivência entre população e a fauna local. (Fonte: //www.jusbrasil.com.br/politica/4906513/governo-prepara-acao-ambiental-apa-do-rio-curiau).

Veja o relatório produzido pelo IBAMA (2007) devido o abate de onça na APA do Curiaú.

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