As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

PRIMEIRO HABITANTE DE LARANJAL DO JARÍ

Pesquisando sobre o Município de Laranjal do Jarí, encontrei esta reportagem que fala do primeiro habitante. Um texto interessante, pois retrata a realidade da época: a migração intensa causada pelo Projeto Jarí, o crescimento populacional obrigando a busca por residência e as tentavivas da empresa de controlar os moradores que vinham em busca de novas perspectivas. 
O texto foi extraído da publicação "O Poder Municipal do Amapá no Novo Milênio" de 2002.

Salustiano Alves dos Santos (Seu Salú)

Foi exatamente no dia 20 de janeiro de 1954 a chegada de seu Salú, um cearense de Tianguá, a Belém do Pará. Tinha 33 anos quando veio num navio do Loyde Brasileiro denominado "Cuiabá" e que tinha sido tomado da Alemanha durante a II Guerra Mundial. De Belém veio direto para o Jarí na lancha "Cajarí" e não recorda quantos dias durou a viagem. Foi morar na cachoeira de Santo Antônio e fichou na Jarí Portuguesa. Passou pouco tempo pois não aguentou os insetos, principalmente um tal de "pium". Demitiu-se e foi para Macapá. Achou a cidade parada e, como estava "endinheirado", resolveu bater asas. Foi parar em Manaus onde montou uma oficina de ourives (antiga profissão no Ceará). Mas pegou uma tremenda malária que o escorraçou do Amazonas. Entrou no navio "Sobralense" e veio novamente para o jarí, pois alguma coisa o chamava pra lá. Casou-se em 1957 com Maria Benedita e com ela teve cinco filhos, um já falecido. Foi morar na Padaria e começou a fazer marretagem na orla do Rio até Macapá. Neste mesmo ano foi nomeado Comissário de Polícia de Padaria e trabalhou durante 10 anos. Trazia os presos de voadeira para para Jarilândia. Teve muito trabalho. Era aventureiro de todas as partes e todos pensando em ficar rico. A bebida corria solta e sempre tinha confusões. Demitiu-se e foi trabalhar de carpinteiro na Conterpa. Os portugueses venderam a Jarí para os americanos (Daniel Ludwig) e em outubro de 1968 seu Salú instala-se em Laranjal do Jarí exatamente onde fica a travessia da balsa, no início da Tancredo Neves. A Conterpa foi embora e Salú foi trabalhar na Jarí como mestre-de-obra.

Seu Salú
(primeiro habitante de L. do Jarí)
"Tinha só uma casinha de burros do seu Militão. Dias depois o comissário Benjamim de Jarilândia trouxe do outro lado o Sr Benedito Gama, para fazer uma casa deste lado porque ele não tinha onde morar. Ainda hoje (reportagem do ano 2002) ele tem um comércio no mesmo local. E a história registra Benedito Gama como primeiro morador da cidade, quando na realidade eu, Salustiano Alves dos Santos, fui o primeiro morador de Laranjal do Jarí. Em 1969 houve uma invasão geral e Jarí revoltou-se e mandou derrubar todas as casas, mas me respeitaram. Mas em 1970, diante de nova invasão a Jarí queimou todas, até a minha. Nos remanejaram para o outro lado na vila "Pau Roliço", mas ninguém foi. Fiz nova casa e novamente derrubaram. Me zanguei. Deixei Benedita aqui e fui à Macapá com o coronel Gentil, Secretário de Segurança, e relatei a história. Ele veio pessoalmente na minha casa, pediu uma mesa, sentou-se e liberou o lugar", relata Salú.

Atualmente (ano 2002), ele mora no Bairro do Agreste, na Rua Bom Pastor e tem muitas histórias para contar, é só ir lá e conferir.