As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Macapá e suas Ressacas

Uma cidade cercada de lagos, assim era Macapá de outros tempos. Essa terra tucuju que, em suas características mais marcantes, tem as ressacas como ambiente natural em sua paisagem.  Outrora locais bonitos e preservados, hoje um número reduzido e ainda vítimas da destruição de uma cidade em crescimento. 

Veja uma nota do Dr. Carauta sobre visita que fez ao lago do Pacoval em 1960. O texto foi exctraído do livro "Ressaca: Ecossistema Úmido Costeiro do Amapá" da Bióloga Norma Crud Maciel e nele observamos a riqueza encontrada pelo pesquisador.....em  uma Macapá de outros tempos.
"Revendo o caderno de excursões, encontrei referências a duas idas ao Pacoval de Macapá - uma em 4 II 1960 e outra em 7 II 1960.
A Lagoa do Pacoval era magnífica, com muitos buritis e presença de maracanãs e patos (que são vendidos nos arredores, vivos e mortos). A água estava quase coberta de "LINHEIRA", parecida com arroz, assim como EILITHORNIA, HELICONIA, GRAMÍNEAS  e outras plantas aquáticas. Quando fui sozinho me alertaram para tomar cuidado com as sucuris. Na mata de várzea vi URUCU, AÇAÍ, ANINGA, BACABEIRA (palmeira), IPOMOEA, CECROPIA e várias leguminosas. Era um verdadeiro paraíso ouvindo-se a sinfonia da fauna aérea, aquática e terrestre. Herborizei algumas plantas que foram posteriormente depositadas no Museu, digo, no Herbário do Museu Nacional. Tirei algumas fotos e, no dia 9, retornei ao mesmo local, para admirar a mais bela paisagem que vi na Amazônia até hoje. Não fossem os ataques de carapanã, o paraíso seria perfeito, mas afinal eles precisavam de sangue. Às margens da lagoa vi também muitos AMARANTHACEAE, COMPOSITAE, CYPERACEAE, NYMPHARACEAE. Chamava a atenção a SOROROCA de inflorescências alanranjadas (MUSACEAE) com formigas vermelhas."

Nota do DR. Carauta em 16/08/1960
Foto: Ressaca Anos 60 (provavelmente no Pacoval)

Essas áreas alagadas são chamadas aqui de ressacas e grande parte delas sofreu processo de ocupação e destruição. A população que ocupa essas áreas não o faz porque quer, mas por falta de alternativas.  Segundo a pesquisadora Ivone Portilho,  doutora em geografia pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp), a ocupação é resultado de processo de intensa migração, aliado a falta de oportunidades de moradia e de trabalho.
FOTO: Ocupação desordenada de ressaca (Arquivo da SEMA/AP)
 
Fotos de Sara Neri (Ocupação de ressacas)
Triste realidade para quem vive nestas áreas, expostos a sérios agravos a saúde, em condições precárias de vida e, se já não bastasse...convivendo com a violência.
Triste ambiente, que perde suas características de importante ecossistema, deixando de ser refúgio e criadouro da vida silvestre,  para tornar-se um grande esgoto e foco de doenças.
Triste da sociedade que, desesperançosa de mudanças, atira-se as mais ínfimas oportunidades em busca do que chamamos sobrevivência.
As cidades de Macapá e Santana (principais e maiores centros urbanos do Estado) estão permeadas por ressacas que formam as bacias hidrográficas do Igarapé da Fortaleza e do Rio Curiáu. O crescimento das cidades tem gerado a destruição de boa parte desse ecossistema.

FONTE: SEMA-AP (2007)
Entender a importância e consequências das ressacas 
é fundamental então para a preservação. 
      Fotos de Sara Neri (Ressacas)
Vemos seu valor e o quanto precisam ser presevadas nas seguintes funções:
  • refúgio e criadouro natural de várias espécies (fauna e flora), que se reproduzem nas ressacas;
  • escoadouro natural das águas das chuvas (formam uma rede de canais que coletam e direcionam as águas das chuvas para os rios);
  • contribuem para o equilíbrio térmico nas cidades (formam corredores naturais de ventilação, amenizando o clima equatorial de nossa região);
  • tem um grande potencial econômico, que pode ser explorado pelo turismo.
 
 Fotos de Sara Neri (Ressacas)

A seguir alguns materiais de educação ambiental da SEMA-AP.
Cartaz da SEMA-AP
Folder da SEMA-AP
Mais informações sobre as RESSACAS podem ser encontradas na Biblioteca Ambiental da SEMA-AP, que apresenta amplo acervo sobre o assunto.

A biblioteca está localizada no prédio da SEMA, na AV. Mendonça Furtado - Nº 53 / Bairro Central, atrás da Igreja de São José.

Conheça nossas bibliotecas!
Preserve as ressacas!

Veja também:
- Ressacas, porque protegê-las (Folheto SEMA-AP/2000)
- Áreas de Ressaca em Macapá (Vídeo SBT-AP/2011)